terça-feira, 25 de junho de 2013

"Presságio"- Fernando Pessoa

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar pra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…

domingo, 23 de junho de 2013

"Intoxicados pelo eu"- Martha Medeiros

  • Outro dia acordei com uma espécie de ressaca existencial, sentindo necessidade de me desintoxicar, e era óbvio que o alívio não viria com um simples gole de Coca-Cola. Precisava, antes de tudo, descobrir o que é que estava me pesando, e logo percebi que não era excesso de álcool, nem de cigarros, nem de noitadas, os bodes expiatórios clássicos do mal-estar, e sim excesso de mim.

    Desconfio que já tenha acontecido com você também: de vez em quando, sentir os efeitos da overdose da própria presença. Desde que nascemos, somos condenados a um convívio inescapável com a gente mesmo. Quando penso na quantidade de tempo que estou presa a essa relação, fico pasma de como consegui suportar tamanho grude. Eu e eu, dia e noite, no único relacionamento que é verdadeiramente pra sempre.

    Ando escutando uma banda uruguaia chamada Cuarteto de Nos, cujas canções possuem letras divertidas e sarcásticas, entre elas, "Me Amo", uma crítica bem-humorada a esse era narcisista que estamos vivendo. O personagem da música não ouve ninguém e não consegue imaginar como seria o mundo sem a sua presença. Tem muitas garotas, porém nenhuma é digna dele. Está muito bem acompanhado a sós. “Soy mi pareja perfecta”.

    Intoxicação talvez seja isso: considerarmos que somos um par. Só que no meu caso, sou um par em conflito. Um eu que deseja fugir e outro eu que deseja ficar. Um eu que sofre e outro eu que disfarça. Um eu que pensa de uma forma e outro eu que discorda. Um eu que gosta de estar sozinho e outro eu que precisa amar. Nada de pareja perfecta, e sim caótica.

    Uma relação tranquila consigo mesmo talvez passe pela conscientização de que não devemos dar tanto ouvido às nossas vozes internas e que mais vale nos reconhecermos ímpares e imperfeitos por natureza. A vida só se tornará mais leve e divertida se pararmos de nos autoconsumir com tanta ganância e darmos uma olhadinha para fora. A gente perde muito tempo pensando na nossa imagem, no nosso futuro, nos nossos problemas, nas nossas vitórias, no nosso umbigo. Até que um dia acordamos asfixiados, enjoados, sem ânimo e sem paciência para continuar sustentando a pose, correspondendo às expectativas, buscando metas irreais, vivendo de frente pro espelho e de costas pro mundo.

    É a era do egocentrismo, somos vítimas de um encantamento por nós mesmos, mas, como toda relação, essa também desgasta. Fazer o quê? Esquecer um pouco de quem se é, esquecer da primeira pessoa do singular, das nossas existências isoladas, e pensar mais no que representamos todos juntos. Ando cansada de tantos eus, inclusive do meu.

    20 de fevereiro de 2011

I won't give up- Jason Mraz and Sungha Jung



sábado, 22 de junho de 2013

Ficção e seus contras

Eu sempre fui uma pessoa que gosta de ler romance, aventura, e ficção em geral. Acho que 31 em cada 30 livros que eu tenho são ficcionais. Ano passado, minha antiga professora de redação me aconselhou ler menas ficção, pois quando aquela história super emocionante e perfeita acaba, e a gente olha ao nosso redor, levamos aquele "choque" da realidade. Porque um galã de cinema não se apaixonará por você da noite pro dia; sátiros, deuses e o Acampamento Meio-Sangue não existem; há apenas 0,0000000000000001% de chance de aquela cena de "esbarrei-com-um-garoto,-meus-livros-caíram,-ele-me-ajudou-a-recolher-as-coisas-e-nos-apaixonamos" acontecer; humanos que viram lobos e vampiros não existem; enfim, quase nada do que acontece nos livros de ficção aconteceria na realidade. Agora darei um tempo para você absorver essa triste informação.

Não basta ter a completa noção de que essas coisas não existem, pois, uma hora ou outra você pára e pensa no quanto a sua vida tá uma merda (desculpem o meu vocabulário) e aí seus pensamentos te levam a um universo mais legal que é, nada mais, nada menos, que AQUELE livro. Nossa, como tudo naquele livro é perfeito! Se eu estiver triste, aparece um dragão e me leva pra Disney; se eu sofrer de amor platônico, a autora o leva a se apaixonar por mim, e assim vai... Aí você olha pra sua vida, comparada àqueles livros, e vê que é quase tudo ao contrário, que a vida nos livros é melhor, é legal, é "show". 

Nunca tinha pensado nisso e, depois que a minha professora me disse aquilo, eu nunca mais esqueci. Primeiro pensei: "caramba, nada ver essas 'paradas' aí, todo mundo sabe que ficção é ficção, então não prejudica em nada". Mas cheguei à conclusão que sim, isso prejudica de alguma forma. Algumas pessoas até enlouquecem procurando o mundo que há dentro dos livros, e outros se contentam em praticamente sair desse mundo e viver com o nariz enfiado nos perfeitos mundos ficcionais. Claro que uma "ficçãozinha" de vez em quando não faz mal. Como sempre, o que prejudica é o exagero. 

Existem bons livros de ficção, com uma moral maravilhosa e etc. Mas não apenas os livros de ficção têm universos bonitos; o mundo está repleto de histórias e depoimentos maravilhosos!, basta saber escolher. Afinal, ninguém quer acabar por procurar o mundo perfeito em um hospício qualquer.


quarta-feira, 19 de junho de 2013

"Amor unilateral"

Vendo o título, muitas pessoas pensarão que eu vou discorrer sobre aquele triste amor platônico, quando você ama um garoto e ele não te ama. Porém, eu não sou psicóloga nem nada pra falar sobre isso. O amor a que me refiro é aquele amor que Jesus diz para termos com o nosso próximo, e até mesmo com nossos inimigos e as pessoas não retribuem à nossa bondade e amor (daí vem o termo "unilateral"), e preferem ficar de cara feia pra você ao invés de retribuir ao seu sorriso.

Como se não bastasse suas tentativas para gostar das pessoas que você não aprecia muito (Naldo, Luan Santana, Mc Catra, alguma patricinha da sua escola, a professora de espanhol, etc) ainda precisa ouvir se referirem a você com palavras pouco elogiosas, como: falsa, "força barra", etc.

Pelo menos eu faço a minha parte e dane-se quem acha que nós, pacificadores do mau olhado e a favor da extinção de inimigos, somos falsos. Existe diferença entre ser falso e tentar gostar de alguém:

  • Falsos nem tentam gostar das pessoas, são falsos mesmo, vivem com aquele "sorrisinho" na cara e não movem um mísero músculo para tentarem não ser falsos.
  • Pessoas que tentam gostar de alguém possuem características contrárias às dos falsos.
É simples e compreensível.
Vamos fazer daqui um mundo melhor, começando pela aniquilação da falsidade e pela extinção de inimigos.


Ps: Não sou muito de fazer apelos, mas abri uma exceção porque sou uma boa pessoa.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Os chatos

Pessoas chatas são o que não faltam! Não importa por onde você ande, por quais planetas e países você passe, sempre encontrará um chato. Eles são previsíveis e tipicamente chatos. Chatos são aqueles que pedem pra gente curtir tal coisa no facebook (ou em qualquer outra rede social), aqueles que riem de tudo, aqueles que falam demais, aqueles que não abaixam a cabeça quando você não consegue enxergar o que está escrito no quadro, aqueles que te provocam, aqueles que pegam suas canetas sem pedir... Enfim, há muito a mencionar.

Não devemos ficar com raiva deles, e sim, tentar suportá-los. Afinal, praticamos chatices diariamente e as pessoas fazem de tudo pra nos aguentar. E nem me venha dizer que você não pratica chatices uma vez ou outra! Você pode até não fazer nada do que foi mencionado acima, mas com certeza faz outras coisas. Por exemplo: desafinar o violão de alguém ou segurar as cordas pra que não saia som algum, tocar a campainha de alguma casa e sair correndo, perguntar pra um sorveteiro se tem sorvete de baunilha e, mesmo se tiver, comprar um de chocolate, etc. E se, mesmo assim, você não fizer nada disso, existem outras coisas. Não adianta fugir. 

Nossos amigos, pais, primos, e parentes em geral aguentam nossas chatices todos os dias. Por que não tentar aguentar os chatos que vivem ao nosso redor então? Não direi que "não custa nada" porque custa sim, custa nossa paciência e gentileza. Mas quase todos os exemplos de chatice que eu mencionei são coisas que eu faço. Então, conclui-se que eu sou uma chata. E vocês também. "Alguns menos, outros mais, chatos somos todos".

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Cinco minutos, 1856

Nem suspeitavas então que, entre todos aqueles vultos indiferentes, havia um olhar que te seguia sempre e um coração que adivinhava os teus pensamentos, que se expandia quando te via sorrir, e contraía-se quando uma sombra de melancolia anuviava o teu semblante.
Se pronunciavam o teu nome diante de mim, corava e na minha perturbação julgava que tinham lido esse nome nos meus olhos ou dentro de minh'alma, onde eu bem sabia que ele estava escrito.
E entretanto, nem sequer ainda me tinhas visto; se teus olhos haviam passado alguma vez por mim, tinha sido em um desses momentos em que a luz se volta para o íntimo, e se olha, mas não se vê.
Consolava-me, porém, que algum dia o acaso nos reuniria, e então não sei o que me dizia que era impossível não me amares.

José de Alencar, "Cinco minutos", 1856

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Ser gentil

Há um conceito errado para a palavra "gentil". Um dia desses achei um livro de auto-ajuda numa livraria qualquer. A contracapa  dizia  que o autor ia ensinar como obter sucesso, felicidade e riqueza por meio da gentileza, fazendo do leitor uma pessoa melhor e bem-sucedida. Ok.
Nem precisei terminar de ler a contracapa para deixar o livro lá onde ele estava. Primeiro, porque tenho outros livros pra ler. Segundo, porque já sou gentil. Não vejo lá toda essa diversão em magoar as pessoas e ser rude.
Ser gentil deveria ser uma atitude para facilitar as relações humanas, e não uma meta pra o sucesso financeiro, etc. Que sucesso, o quê! Agora tudo o que a gente faz, até uma mísera gentileza, tem que visar o sucesso?
Mas, gentileza demais já é abusar da sorte! Claro que você não vai deixar de responder a um "bom dia", dar uma informação a alguém, ajudar a famosa idosa a atravessar a rua, tratar bem comerciantes e funcionários e etc. Mas também não vai pagar um lanche pra todos os moradores de rua que pedirem comida (a não ser que você tenha dinheiro suficiente pra isso), nem aceitar todos os panfletos que te oferecerem (afinal, você vai jogá-los fora), nem entrar no mesmo elevador que um primo do coringa com aquela aparência estranha e assustadora e com aquele sobretudo enorme com um aspecto de "oi, sou um sobretudo e tenho muitos bolsos para colocar os mais diversos tipos de armas". Ele pode ser um matador/ladrão, ou não. Mas, se quiser ser gentil o bastante e entrar no elevador pra ele não pensar que você é preconceituoso e que a aparência dele fez você pensar que ele era um matador/ladrão, vá em frente. Mas se tiver que se abster de algumas gentilezas, pegue um táxi, vá pra casa, "sucesso é chegar em casa com vida".